terça-feira, 16 de março de 2010

Intolerância Alimentar na infância



INTOLERÂNCIAS X ALERGIAS ALIMENTARES NA INFÂNCIA
Na maioria das vezes, os termos "alergia" e "intolerância" são utilizados de forma incorreta, como sinônimos, para representar uma situação orgânica adversa a algum alimento ou substância alimentar.
Podemos definir as alergias como uma reação exagerada ou uma hipersensibilidade do sistema imunológico a determinadas substâncias estranhas ao nosso organismo, sendo os alimentos, em alguns casos, o agente desencadeador dessa reação. A pessoa alérgica quando exposta a determinado alérgeno (elemento que causa alergia), ativa o sistema imunológico que cria anticorpos para destruir a substância causadora da reação alérgica no organismo. Esses anticorpos especificamente associados às alergias são chamados de anticorpos IgE (abreviação de Imunoglobulina E). A IgE é uma proteína do sistema imunológico que atua como sinalizador.
Portanto, a alergia alimentar envolve um mecanismo imunológico, sendo mediado principalmente por IgE, o qual ocorre dentro do trato digestivo, gerando sintomas após a ingestão do alimento.
Pode ser desencadeada por quaisquer das proteínas da dieta habitual, sendo mais freqüentemente devido às proteínas do leite de vaca, soja, ovo, trigo, carne de vaca, frango ou peixe, amendoim, milho, e mais raramente, às proteínas contidas nos legumes, verduras e frutas.
Já o termo intolerância alimentar refere-se a qualquer resposta anormal a um alimento ou aditivo, sem envolvimento de mecanismos imunes. As reações adversas ocorridas na intolerância podem ser causadas por toxinas produzidas por bactérias, fungos, animais marinhos (ostras e atum); agentes farmacológicos como cafeína (café, chá, cacau), histamina (peixe, vinho, cerveja, chocolate, queijos), teobromina (chocolate, chá), tiramina (queijo, abacate, laranja, banana, tomate); erros metabólicos por deficiências enzimáticas, dentre as quais estão as dissacaridases (lactase, sacarase-isomaltase, galactase); idiossincráticas a um alimento ou substâncias químicas no alimento, nos quais estão envolvidos os aditivos alimentares como conservantes, intensificadores de sabor (glutamato monossódico), agentes corantes, como a tartrazina (corante responsável pelo tom amarelado nos produtos, como gelatinas, balas, sucos em pó).
Reações adversas a alimentos são mais comuns em crianças de baixa idade, o que pode ser relacionado, em parte, com os hábitos de alimentação da população avaliada.
A incidência da alergia alimentar dá-se principalmente dentro dos primeiros seis meses de vida, afetando especialmente lactentes que receberam aleitamento natural por um período de tempo muito curto ou então, aqueles que se viram totalmente privados da prática do aleitamento natural.
A intolerância ao leite de vaca é um fenômeno observado com freqüência na prática pediátrica. A intolerância aos carboidratos do leite ocorre principalmente durante o estado agudo das diarréias graves e, nesses casos, a alimentação com fórmulas à base de leite de vaca prolongam a diarréia que, algumas vezes, torna-se crônica.
O estabelecimento do diagnóstico da alergia alimentar deve ser cuidadoso, pois implica em restrição alimentar que, se realizada inadequadamente, pode causar déficit pôndero-estatural e prejuízos sociais ao paciente. Os principais destaques para o diagnóstico da alergia alimentar são:• história compatível;• regressão dos sintomas com a exclusão do alimento suspeito;• retorno dos sintomas com a reintrodução do alimento (teste de provocação oral ou desafio);• testes laboratoriais e/ ou cutâneos positivos.
Terapia Nutricional
A única terapêutica comprovada para alergia alimentar é a dieta de exclusão, ou seja, a eliminação total do alimento causador, fazendo-se necessária orientação aos pais, principalmente no que se refere à leitura dos rótulos dos alimentos, sendo ensinados quanto aos vários sinônimos comuns em alimentos industrializados e quanto a adaptação de recipientes utilizados. Os parentes mais próximos e educadores também devem ser orientados garantindo, assim, a realização da terapia e a total exclusão dos compostos alérgenos. Para a dieta de exclusão, tem sido definido como ideal um período de tempo mínimo de oito semanas.
A dieta deve ser adaptada a cada paciente e a certeza de sua realização deve ser sempre confirmada. É comum os pais de crianças com alergia alimentar (que seguem dieta de exclusão com sucesso), depararem-se com familiares e amigos que não acreditam no diagnóstico da alergia alimentar e oferecerem alimentos proibidos à criança, causando reações.
Muitas vezes, os hábitos alimentares de toda a família é modificado e as idas a restaurantes torna-se um problema. As chances de contaminação cruzada em restaurantes durante o preparo e a cocção são muito altos, pois é comum a prática de cozinhar vários tipos de alimentos em um mesmo utensílio. Como resultado, a comida frita pode conter proteínas de outros alimentos cozidos no mesmo óleo. Recomenda-se que a criança com alergia alimentar prefira alimentos de preparo simples, como batata assada, vegetais cozidos no vapor, carnes cozidas.
As fórmulas à base de proteína de soja são utilizadas com freqüência no tratamento da alergia às proteínas do leite de vaca e nas intolerâncias aos carboidratos contidos no mesmo 7. Porém, deve-se ter atenção ao uso dessas fórmulas, pois apresentam limitação devido à ocorrência de hipersensibilidade em até 50% dos casos.
Lactentes com diagnóstico de enterocolite induzida pelo leite de vaca devem passar a receber fórmulas hipoalergênicas, considerando que 50% desses, podem desenvolver enterocolite quando alimentados com fórmulas à base de soja.
A probabilidade do desaparecimento dos sintomas parece depender da aceitação da dieta de exclusão e do alimento específico que provoca os sintomas. As alergias ao amendoim, nozes, peixes e a outros frutos do mar são as de maior duração, possivelmente persistindo por toda a vida.
Recomenda-se que as crianças alérgicas sejam submetidas ao desafio alimentar a cada 1 ou 2 anos. No caso do amendoim, nozes e frutos do mar, o desafio deve acontecer a cada 4 ou 8 anos, para determinar se a alergia persiste. Não existem evidências de que os indivíduos que se tornaram livres da alergia alimentar desenvolverão novamente uma reatividade sintomática após a reintrodução do alimento na dieta.
Na dieta de exclusão de leite e substitutos, é importante monitorar a ingestão de cálcio, vitamina D e riboflavina. A diminuição dos níveis de cálcio pode contribuir para a redução da massa óssea, o que favorece fraturas na infância e o aparecimento de osteoporose na idade adulta.
Crianças com alergia múltipla devem ser encaminhadas para um profissional Nutricionista para assegurarem-se que a dieta de eliminação da criança seja nutricionalmente adequada.
• Para os casos de intolerância à lactose, a indústria leiteira colocou no mercado leites nos quais a lactose foi previamente hidrolisada em até 80%, tornando-os toleráveis. Podem ser encontrados em forma líquida ou em pó - esse último é mais facilmente encontrado.
Outras alternativas à substituição do leite de vaca nos intolerantes à lactose são: a utilização de produtos lácteos fermentados, como iogurte, no qual a lactose é parcialmente hidrolisada, ou substituição do leite por fórmulas à base de proteína de soja que possui, como fonte de carboidrato, a sacarose ou a dextrino-maltose.
Nos casos de intolerância congênita à lactose, que se caracteriza pela ausência ou intensa deficiência isolada de atividade lactásica, que acomete crianças recém-nascidas, a terapia indicada é a exclusão de leite materno, leite de vaca e cabra (utilizados por nossa população). Indica-se, nesses casos, o extrato de soja, preparado a partir do grão, ou fórmulas lácteas sem lactose. Os demais alimentos podem ser introduzidos mais tardiamente, como os vegetais, frutas, carnes e ovos. É preciso estar atento ao uso de alimentos industrializados, pois costumam conter leite em sua formulação, como chocolates, bolachas, bolos, sorvetes de massa e muitos outros.
O conteúdo de lactose em iogurtes mantém-se em níveis de 70 a 90% comparado ao leite integral. A tolerância ao iogurte nos pacientes hipolactásicos, deve-se, provavelmente, à atividade da β-galactosidase existente no mesmo, pois age no duodeno, desdobrando a lactose do alimento ingerido.
Observa-se nível baixo de lactose nos queijos, porém com grande variabilidade segundo os tipos de queijos estudados. Os queijos nos quais não ocorre retirada da maior parte do soro, como os tipos minas frescal, coalho e requeijão, apresentaram valores superior a 1,0 g %, enquanto que nos demais como, muçarela, prato, gouda e estepe, os valores ficaram entre 0,03 e 0,3 g %.
A quantidade habitualmente consumida pela população (uma fatia média corresponde a cerca de 40 g) deve ser bem tolerada pela maioria dos hipolactásicos.Em muitos casos, a intolerância à lactose faz com que pessoas reduzam ou eliminem leite e derivados de sua dieta. Esses alimentos são a maior fonte dietética de cálcio, por isso é importante que se estabeleça a tolerância alimentar para que se determine um consumo diário em uma dose que a pessoa sinta-se confortável, ou seja, que não apresente sintomas.
Texto de:
Vivian Cunha. (Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/8510080839281670 )